I Encontro dos Ex- FEAB.

I Encontro dos Ex-FEAB: Brasília, 02 e 03 de Junho de 2012.

sexta-feira, 30 de março de 2012

HÁ QUASE MEIO SÉCULO...


Rosângela e Egon

Fiz Agronomia em Pelotas/RS, entre 1963 e 1966. Foram quatro anos de curso, em regime anual. A Escola de Agronomia Eliseu Maciel, fundada em 1883, era, então, uma faculdade isolada, ainda vinculada ao Ministério da Agricultura. Mais tarde, com a criação da UFPEL, passou a integrar a universidade, abrigando-a em seu campus.
À época ainda não existia a FEAB. A militância estudantil se dava, sobretudo, através da UNE e da UEE. Havia apenas três faculdades de Agronomia no RS (Porto Alegre, Pelotas e Santa Maria). A de Passo Fundo foi fechada em 1964/65 e seus alunos redistribuídos entre as demais faculdades.
A articulação estadual e nacional do movimento estudantil agronômico, pela minha percepção, era frágil. No RS, realizávamos encontros esporádicos entre os centros acadêmicos, onde discutíamos assuntos como grade curricular, regime semestral. Temas mais polêmicos, como reforma agrária, poucas vezes frequentavam esses encontros, não havendo consenso. Contudo, debates sobre temas polêmicos eram realizados por centros acadêmicos ligados a grupos de esquerda. A direita também estava organizada; seu principal grupo era o Decisão, forte em Porto Alegre.
O golpe militar de 64 empurrou, gradativamente e pela repressão violenta, o debate e a militância política para a clandestinidade. Sobrou a UNE, acuada, como um bastião de resistência. Lembro de um episódio em particular: no dia 2 de abril de 64 (um dia após o golpe, que ocorreu na madrugada de 1º de abril e não, no dia 31 de março), o DANV, nosso diretório acadêmico, chamou uma assembléia para discutir a adesão à greve convocada pela UNE. Vários professores e estudantes da faculdade haviam sido presos naqueles dias. Os debates foram muito quentes, com a platéia se dividindo ao meio.
Pois bem, poucos dias depois, fui intimado, como membro da diretoria do DANV, a depor num quartel do Exército em Pelotas. Perguntado por um capitão sobre a assembléia do DANV, lhe respondi que, por uma diferença de dois votos, os estudantes de Agronomia haviam decidido não aderir à greve contra o golpe. A reação do militar foi imediata: “Golpe não, seu moço! Revolução!” Ao que respondi na lata: “É, mas a moçada chamava de golpe!” A partir daí, o cenho se franziu e a conversa mudou de tom. Mas, não passou disso.
Todavia, oito anos depois, já formado e trabalhando em Porto Alegre, acabaria sendo preso por minha militância contra a ditadura militar. Mas, aí já são outros quinhentos.
            
                                      Egon Krakhecke                     
Brasília, 1º/04/2012 (48 anos depois)

Nenhum comentário:

Postar um comentário