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João Scaramella |
Militância na FEAB.
Fim da década de 1990, período marcado
pela política neoliberal de FHC, a militância estudantil se pautava pela luta
contra a privatização da educação e as “cartilhas do FMI” para a América
Latina. Dentro do movimento estudantil da agronomia lutávamos pela qualidade de
nossa formação profissional, pelo fortalecimento da agroecologia, pela
conscientização da luta de gênero e sexualidade. A luta no campo passava por um
grave acirramento da violência contra trabalhadores sem terra, entre eles Antônio
Tavares, que há 12 anos era assassinado na rodovia 277, próximo a
Curitiba. Recordo-me que no dia desta
manifestação, brutalmente reprimida pelo governo Lerner, estávamos no EREA em
Chapecó – SC, foram momentos de tensão. A repressão social no Paraná colocava
as forças populares a frente de grande mobilização, sendo o maior exemplo a
mobilização contra a privatização da COPEL (Companhia Paranaense de Energia),
apanhamos muito da policia! Lembro-me da Sandra, Milena, Juliane, Nei, Mikami,
Milton, Binho, Gentil e muito outros enfrentando centenas de policiais, mas
mesmo com toda essa repressão, conseguimos ocupar a Assembléia Legislativa,
paralisar a votação e impedir a privatização desse importante patrimônio do
povo paranaense.
Esse acirramento das lutas construiu
um grande grupo, com uma bela história de amizade e politização dentro da UFPR,
dentro do CAALV e na nossa salinha da FEAB. Essa salinha faz parte da história
de vida de muitos companheiros, militantes da FEAB, do Movimento Estudantil Geral,
dos Movimentos Sociais e sindicais. Passaram por lá estudantes que em algum
momento e de alguma forma compartilharam idéias e ideais e levaram algo
diferente para suas vidas, sim, aquela salinha fez diferença não apenas em
nossas histórias, mas contribuiu com a história do Paraná e do Brasil. Regado a
muito chimarrão, articulavam-se chapas do CAALV, do DCE, de outros centros
acadêmicos, da UNE, dos sindicatos, de eleições para Reitor, vereador,
prefeito, a pluralidade entre freqüentadores ia desde calouros perdidos (fui um
deles) até candidatos a prefeito e governador, muitas histórias de muitas
vidas.
É difícil recordar um período de
militância sem que de alguma forma se cometa alguma injustiça, sem que se
esqueça alguns de nossos valorosos companheiros, sem que nossas relações
pessoais se manifestem de forma mais expressiva que a realidade política,
afinal de contas, tratamos aqui de recordar fatos e momentos de nossas vidas,
onde emoções e sentimentos afloram, mas acredito que em minhas palavras expresso
o sentimento de todos os companheiros que compartilharam dessa luta ideológica,
sentimento que se reflete nas lembranças de um espaço impar em nossas vidas.
Gentil |
Recordar os grandes momentos, o
aprendizado, as lutas e vitórias de nada me valem sem recordar um companheiro
que trilhou sua história com gigantescas força de vontade e superação, regada a
uma ideologia imensurável, um companheiro que não media esforços por seus ideais,
mas que mesmo assim nunca deixou de ser divertido, amável e atencioso com cada calouro
que passou por ali, nosso grande companheiro Gentil Couto Vieira, ou só Gentil,
ou um dos vários apelidos que recebeu nessa trajetória, sei que, assim como eu,
todos os companheiros de luta que conhecem essa figura singular e seu papel como
militante tem nele uma referência ideológica, sei que, assim como eu, todos
esses companheiros têm o mais profundo orgulho de seu convívio e sei que, assim
como eu todos querem seu retorno às frentes de luta. Obrigado velho amigo.
Veja mais sobre Gentil aqui.
Fiquei emocionado com o texto João. Um grande abraço para vc e votos para que a justiça seja e o Gentil seja libertado. Paulo Xuxu
ResponderExcluirJoão, teu texto retrata um pouco a trajetória de quem militou na FEAB e traz a homenagem e lembrança de um grande homem, militante, companheiro e acima de tudo, grande amigo, que é nosso Gentil.
ResponderExcluirGentil foi um cara cúmplice de meus sonhos militantes e agora, sabendo da situação do companheiro, temos que lutar para ajuda-lo a superar a situação em que se encontra e que ele seja libertado em definitivo.
Se alguém tiver mais informação sobre o Gentil hoje, poderia nos da-la? ( o blog compas livres está desatualizado e já passei vários e-mails e não tenho informações atuais).
Vamos na luta sempre!!!
Josélio Riker
C.O. 40ºCONEA ( 1997- Belém-Pa)
Reg.VI 95/96 e 96/97
Tb estive no EREA de Chapecó, e lembro que na volta policiais pararam nosso ônibus em busca de enxadas e foices e outras coisas, pois achavam que estávamos indo à Florianópolis para participar de um protesto. Um policial ainda perguntou: "quais são as armas que vcs tem?".
ResponderExcluirAo que um amigo (talvez o Maykol?) responde: a voz, papel e caneta!
Cara, queria demais participar do encontro, mas estou muito longe e não tenho como ir. Se não for pedir muito, que houvesse um registro do encontro para ser compartilhado.
Abração
Marcos Lana (o Blumenau)
Reg II, UFSC - Florianópolis